Para aqueles que, como o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Ernesto Araújo, acreditam que o nazismo foi uma ideologia de esquerda, temos algo a recomendar: livros.
As origens do nazismo remontam a 1920, quando, dominado por Adolf Hitler, o Partido dos Trabalhadores Alemães foi rebatizado de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães – o termo “nazi” vem da sonoridade inicial do nome em alemão, Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei.
Ainda que a palavra “socialista” possa causar alguma confusão, o partido foi um dos vários grupos de extrema direita derivados dos völkisch, cuja ideologia era diretamente relacionada a premissas racistas e nacionalistas. (Na oposição, à esquerda, estava o Partido Social-Democrata da Alemanha, que existe até hoje.)
As principais bandeiras do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães eram antissemitas e antimarxistas. Após ser preso, em 1923, Hitler afirmou em seu julgamento: “Decidi ser o destruidor do marxismo”. Foi o início de sua escalada ao poder.
Como o próprio Museu do Holocausto, em Israel, deixa claro, havia na Alemanha do início dos anos 1920 um clima de frustração que, “junto à intransigente resistência e a alertas sobre a crescente ameaça do comunismo, criou solo fértil para o crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista”.
Se ainda restou alguma dúvida, selecionamos seis livros que deixam claro o que foi o nazismo.
Movido pelo ódio, incapaz de estabelecer relacionamentos humanos normais, Adolf Hitler parecia um líder improvável; no entanto, conseguiu um apoio gigantesco. Como foi possível Hitler se tornar uma figura tão atraente para milhões de pessoas? Essa é a pergunta essencial do livro de Laurence Rees, O carisma de Adolf Hitler. O Holocausto, a invasão nazista à União Soviética, a explosão da Segunda Guerra – todos esses acontecimentos catastróficos do século XX podem ser atribuídos a Hitler. Hitler foi, sem sombra de dúvida, um criminoso de guerra sem precedentes na história mundial. Ainda assim, era capaz de exercer uma grande influência nas pessoas que encontrava. Nesse livro fascinante, o aclamado historiador e autor de documentários Laurence Rees, analisa a natureza atrativa de Hitler, revelando o papel que seu suposto “carisma” desempenhou em seu sucesso. O carisma de Adolf Hitler é o ápice de vinte anos de escrita e pesquisa sobre o Terceiro Reich, e uma análise notável do homem e da mente no centro de tudo isso. O livro volta às livrarias neste mês de abril.
Uma biografia psicológica construída a partir de entrevistas com pessoas que conviveram com o líder nazista. Muito já foi escrito sobre a vida do Führer, mas poucos estudiosos se dedicaram a entender tão a fundo seus padrões de comportamento e modos de pensar quanto Walter C. Langer. Ele analisa as dobras de uma mente onde ideias assombrosas se autoalimentaram por décadas antes de encontrarem ressonância no tecido social alemão, fatos que o levaram, primeiro, ao antagonismo com a civilização e, depois, à derrota militar, seguida do calvário moral pela expiação – ainda em curso atualmente, mais de 70 anos depois do fim da guerra e dos crimes contra a humanidade. O relatório de Langer também antecipa algumas possíveis atitudes de Hitler que vieram a se confirmar, como o seu suicídio – que, nas palavras do autor, seria “o desenlace mais plausível”. A mente de Adolf Hitler é um fascinante documento histórico e peça fundamental para a compreensão do século XX.
Um dos historiadores mais fundamentais e reconhecidos do mundo, Martin Gilbert produziu um tratado monumental e detalhadíssimo sobre o cotidiano da segunda grande guerra, cobrindo os principais acontecimentos de cada um dos 2.174 dias de duração do conflito. Com as palavras de representantes do nazismo, como Hitler, Goebbels e Himmler, da oposição e dos Aliados, como Stalin, Churchill e Roosevelt, e até de vítimas anônimas das atrocidades, o livro A Segunda Guerra Mundial reconstrói a história completa em suas múltiplas perspectivas. Entrelaçando todos os aspectos da guerra global – político, diplomático, militar e civil – e ainda com os mapas transitórios de países que se segregaram e unificaram ao longo dos anos de conflito e fotos marcantes dos acontecimentos, o autor traça um panorama único e definitivo sobre a guerra mais estudada da história e que até hoje traz revelações surpreendentes.
Um livro que nos mostra de perto as tragédias humanas provocadas pelo nazismo. Durante a Segunda Guerra, oito pessoas viveram na clandestinidade, escondidas, tentando simplesmente sobreviver, e conseguiram isso graças a outras cinco que decidiram assumir a perigosa tarefa de ajudá-las. Entre os clandestinos estava Anne Frank, a menina que ficou conhecida no mundo inteiro a partir de seu famoso diário, escrito nesse lugar que ficou conhecido como Esconderijo, durante o período de confinamento. Juntas, durante dois anos intensos, essas pessoas partilharam as dores da reclusão, as angústias, o medo, a escassez de muita coisa, inclusive de comida, até que foram traídos e enviados a campos de concentração. Num movimento de resgate dessa história real e para manter viva a memória de Anne, Para além do diário de Anne Frank conta o dia a dia dessas oito pessoas que enfrentaram o horror da guerra e narra os detalhes da escrita de um dos diários mais conhecidos da história mundial.
A arma mais poderosa de Hitler não foi um avião, uma bomba ou um rolo compressor de tanques, mas sim o livro Mein Kampf. Por outro lado, os nazistas queimavam todos os livros que manifestavam ideais contrários ao seus. Molly Guptill Manning narra em Quando os livros foram à guerra narra a importância dos livros durante a Segunda Guerra Mundial, destacando o trabalho da Armed Services Editions, editora que se especializou em publicar e distribuir livros especiais e adequados a soldados em campos de guerra. Eles os liam enquanto esperavam para desembarcar na Normandia, nas trincheiras infernais em meio às batalhas no Pacífico, à espera da recuperação de ferimentos em hospitais. Os livros eram amados – e disputados – pelas tropas, e ainda hoje são lembrados com carinho pelos veteranos, além de peça fundamental da vitória de uma guerra que somou mais de quarenta milhões de vítimas. E foi nesse conflito que os títulos da Armed Services Editions tiveram seu papel mais importante: viraram armas vitais na guerra de ideias.
Escrito pelo pesquisador Mark Riebling, expert em serviços de inteligência e espionagem, O papa contra Hitler se baseia em transcrições e documentos confidenciais para narrar uma batalha épica e joga luz sobre uma das maiores controvérsias históricas de nossa era: a postura supostamente neutra da Igreja diante do nazismo. Até a publicação de O papa contra Hitler, a história oficial acusava o pontífice Pio XII, ocupante do cargo durante a Segunda Guerra Mundial, de cumplicidade com o Holocausto – chegando inclusive a chamá-lo de “O Papa de Hitler”. Mas uma parte determinante desse episódio ainda não havia sido contada: Pio XII comandou um dos maiores esquemas de espionagem para derrotar o nazismo.