Em Destaque #22 - "Sou branca, mas há muitas vozes negras no livro", diz autora de "A Resposta"
A escritora norte-americana Kathryn Stockett sabe como ninguém o que significa rejeição. Após cinco anos preparando seu romance de estreia, ela viu a porta bater na sua cara 60 vezes antes de ser abraçada por uma editora.
A insistência, no entanto, foi recompensada. Considerado o livro do verão de 2009 pela imprensa dos EUA, "A Resposta" chegou à lista dos mais vendidos do "The New York Times" em 2010 e por lá tem figurado desde então.
Após ter tido mais de 5 milhões de cópias vendidas e sido lançado em 35 países, o livro chegou às telas em agosto. Com o título "Histórias Cruzadas", o longa surpreendeu as bilheterias americanas, tirando o primeiro lugar de blockbusters como "Planeta dos Macacos: A Origem".
Nada mau para um livro considerado a princípio "frouxo", com "pouca história" e "repetitivo", segundo relatou Stockett à Folha.
A rejeição da escritora tem sintonia com a trama narrada por ela em "A Resposta".
Ambientada no Mississippi dos anos 1960, a história aborda a relação entre empregadas domésticas negras e patroas brancas numa época em que o movimento pelos direitos civis dos negros tomava força nos EUA.
Indignada pelo forte segregacionismo vivido ali, a branca Skeeter resolve dar voz às negras e reúne depoimentos de duas delas em um livro.
Stockett se inspirou na própria adolescência para criar o romance. Nascida e criada em Jackson, no Mississippi, a autora passou a imaginar o que sua própria babá negra pensava acerca do mundo.
Nasciam aí as primeiras linhas do livro. Nas falas, Stockett optou por um vocabulário que emula as gírias dos negros durante o período.
"As pessoas ficaram muito desconfiadas com o tipo de linguagem que usei e diziam que o livro nunca seria vendável porque eu sou branca e há muitas vozes negras ali", disse a escritora.
De fato, boa parte das críticas ao romance questiona a legitimidade de Stockett para levantar a questão racial. Assim como ela, sua protagonista também é uma branca responsável por um levante pela emancipação negra.
"Não entendo o sucesso todo, mas os leitores me dizem que o livro mostra a eles algo que não sabiam que tinha existido, que apresenta um outro ponto de vista dessa história, que é o da mulher."
A polêmica vai além. A empregada negra do irmão de Stockett a acusou de usar seu nome e suas histórias na trama sem autorização. No entanto, a ação foi suspensa na Justiça americana pelo fato de ela ter feito a queixa mais de um ano após a publicação.
"Simplesmente não conheço essa pessoa. Falei com ela só uma ou duas vezes. É tudo o que tenho a dizer", afirmou.
Stockett era uma das atrações programadas para a Bienal do Livro do Rio, que vai até domingo, mas não pôde vir por motivos pessoais. No momento, prepara um segundo livro, que deve se passar no Mississippi dos anos 1920.
AUTORA Kathryn Stockett
EDITORA Bertrand Brasil
TRADUÇÃO Caroline Chang
QUANTO R$ 55 (574 págs.)
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