Reverie #08- O jardineiro, a flor e a metáfora

by - quarta-feira, janeiro 25, 2012






















Já não era dia, mas ainda datava sexta-feira, e o jardineiro continuava a cuidar fielmente do jardim de Beatriz, talvez ele ainda estivesse ali pelo fato de naquele período, os horários não eram os de fatos sucumbidos ao espaço do tempo.

Rafael, o jovem com experiência tamanha em adornar jardins, aprendera o ofício com seu pai ainda quando pequeno, por isso carregava em si grande aptidão com o que a natureza propunha a oferecer aos olhos de homens e mulheres que buscassem um jeito novo de contemplar a vida.

Beatriz era jovem e carregava consigo a beleza ímpar de uma princesa desses novos contos de fada. Rafael era belo, inspirando em si, a perfeição de um amontoado de flores bem cuidados. Eram as diferenças encontradas sobre um mesmo espaço recortado pela imaginação de cada um.

O momento era favorável a uma prosa entre os jovens que demonstravam apresso imenso um pelo outro, devendo-se levar em consideração que já se conheciam desde pequenos. Sendo os seus pais, velhos amigos dos tempos de mocidade. Estavam acostumados a estar em alguns momentos juntos, mas nunca tão próximos, pois suas vidas tiveram rumos e situações diferentes daquelas sonhadas quando ainda brincavam e sonhavam apenas em mudar o mundo.

Beatriz demonstrava certo contentamento em ver Rafael ali, talvez trouxesse para fora de si esperanças, sonhos, desejos ou sabe-se lá o que. Mas talvez aqueles encontros, quase que mensais lembrassem a ela de quem era de verdade. A jovem perderá os pais em um acidente de navio que partia rumo a uma expedição missionária em meio a África, e como ela ainda era muito jovem, ficou sob os cuidados de sua avó, vindo a falecer alguns anos depois. Talvez a senhora só tenha esperado Beatriz crescer para poder partir também.

O jardineiro era uns dois anos mais velho que Beatriz. Era quase um adulto, mas parecia um menino quando estava entre as flores. Morava com a mãe. Seu pai morreu em meio a uma batalha travada na capital de sua cidade. Deixou para o filho, a esperança de poder encontrar nas flores, o elixir de uma vida justa, regada e harmoniosa. Plantou dentro dele, mesmo com as ausências, afetos sólidos e construtivos. Tornou o menino em um homem, dando-lhe espaços para os sonhos e medos. Abrindo as portas para o mundo, mas também o trancando quando devaneios passavam e poderiam raptar a dignidade do menino homem Rafael.

Ao encontro dos dois na varanda, ouviu-se bem ao fundo, a trilha sonora que embalou a época dos dois jovens, que foram marido e mulher em suas épocas de brincadeiras. Era uma letra de beleza sem igual que dizia: “O amor é real, realidade é o amor / O amor é sentir, sentindo amor / Amar é querer ser amado¹...” Mas antes que as emoções começassem a aflorar a pele, apareceu-lhes entre ele a metáfora. Algo como a terceira pessoa do singular, não deixando espaço para que Beatriz e Rafael vivessem o que há tempos começaram, mas que nunca conseguiram consumar. E restou a metáfora amar o seu progenitor jardineiro. E a Beatriz, a metáfora também amou. Sabe-se apenas que esse amor existe, mas quem alguém terá que ceder seu espaço para que a flor possa florir.

Kleberson M.
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¹Love – John Lennon

Sobre o autor:

Kleberson M. (Kleberson Marcondes) é de Pindamonhangaba/SP, nascido em 1989. Estudante Técnico Jurídico no Centro Paula Souza. Amante de Nietzsche e apaixonado por F. Scott Fitzgerald, carrega ainda uma paixão avassaladora por Nirvana, Pitty, Cazuza e Janis Joplin. Sonhador convicto encontra no ofício de escrever, uma válvula de escape para expressar aos poucos como enxerga o mundo, as pessoas, os detalhes. Encontra nas crônicas o evangelho do ser humano contemporâneo, nos contos a fantasia que as pessoas esqueceram e na poesia, notas e partituras, o meio da existência. Filho do mundo, poeta dos incoerentes e observador dos devaneios, já que isso é onde todos se encontram.






Vocês querem conhecer mais sobre o autor.
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Bjs!!!
  

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9 comentários

  1. Lindo Zilda... uma reflexão de vida e suas diferenças e seus encontros no "evangelho humano" de cada um de nós! Belo post!
    Abraço, Célia.

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  2. Que texto lindo! Um ótima reflexão para qualquer idade! Estou maravilhada até agora, saí voando com as flores!

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  3. Muito bonito, Zilda! Fez bem à minha alma. Parabéns ao Kleberson! *-*

    Beijocas,

    Lu
    www.equinocioaprimavera.blogspot.com

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  4. Como sempre excelente texto!!! Esse muito reflexivo! Adorei!!

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  5. Oi Zilda, adorei o texto! Achei tão suave, inocente... parabéns ao autor!

    Beijos!

    Marcelle
    http://bestherapy.blogspot.com

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  6. Que texto lindo!
    Quantos vivem assim, achando que as diferenças fazem algum sentido quando o que os igualam é o AMOR?!
    Parabéns Kleberson. Seus textos são maravilhosos, mas esse teve um "Q" a mais.
    @aplalima

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  7. Adoro esse tipo de texto, que nos fazem viajar, e repensar as coisas, e se imaginar na mente do escritor tb.Parabéns Kleberson.
    Parabéns Zilda.
    Beijos!

    Viviane

    http://vivianeblood.blogspot.com/2012/01/resenha-os-sete.html

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  8. Zilda, texto muito lindo, realmente nos faz pensar na vida, obrigada pela visita e pelas palavras queridas, estou seguindo também.
    Beijos e abraços...
    flordeeros.blogspot.com

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  9. CARA..AMEI..AMEI.. meu Deus finalmente bons textos, ás vezes fico horas caçando bons textos e achei um autor ótimo. Vou atrás de mais textos do Kleberson

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