Reverie #08- O jardineiro, a flor e a metáfora
Já não era dia, mas ainda datava sexta-feira, e o jardineiro
continuava a cuidar fielmente do jardim de Beatriz, talvez ele ainda estivesse
ali pelo fato de naquele período, os horários não eram os de fatos sucumbidos
ao espaço do tempo.
Rafael, o jovem com experiência tamanha em adornar jardins, aprendera
o ofício com seu pai ainda quando pequeno, por isso carregava em si grande
aptidão com o que a natureza propunha a oferecer aos olhos de homens e mulheres
que buscassem um jeito novo de contemplar a vida.
Beatriz era jovem e carregava consigo a beleza ímpar de uma princesa
desses novos contos de fada. Rafael era belo, inspirando em si, a perfeição de
um amontoado de flores bem cuidados. Eram as diferenças encontradas sobre um
mesmo espaço recortado pela imaginação de cada um.
O momento era favorável a uma prosa entre os jovens que demonstravam
apresso imenso um pelo outro, devendo-se levar em consideração que já se
conheciam desde pequenos. Sendo os seus pais, velhos amigos dos tempos de
mocidade. Estavam acostumados a estar em alguns momentos juntos, mas nunca tão
próximos, pois suas vidas tiveram rumos e situações diferentes daquelas sonhadas
quando ainda brincavam e sonhavam apenas em mudar o mundo.
Beatriz demonstrava certo contentamento em ver Rafael ali, talvez
trouxesse para fora de si esperanças, sonhos, desejos ou sabe-se lá o que. Mas
talvez aqueles encontros, quase que mensais lembrassem a ela de quem era de
verdade. A jovem perderá os pais em um acidente de navio que partia rumo a uma
expedição missionária em meio a África, e como ela ainda era muito jovem, ficou
sob os cuidados de sua avó, vindo a falecer alguns anos depois. Talvez a
senhora só tenha esperado Beatriz crescer para poder partir também.
O jardineiro era uns dois anos mais velho que Beatriz. Era quase um
adulto, mas parecia um menino quando estava entre as flores. Morava com a mãe.
Seu pai morreu em meio a uma batalha travada na capital de sua cidade. Deixou
para o filho, a esperança de poder encontrar nas flores, o elixir de uma vida
justa, regada e harmoniosa. Plantou dentro dele, mesmo com as ausências, afetos
sólidos e construtivos. Tornou o menino em um homem, dando-lhe espaços para os
sonhos e medos. Abrindo as portas para o mundo, mas também o trancando quando
devaneios passavam e poderiam raptar a dignidade do menino homem Rafael.
Ao encontro dos dois na varanda, ouviu-se bem ao fundo, a trilha
sonora que embalou a época dos dois jovens, que foram marido e mulher em suas
épocas de brincadeiras. Era uma letra de beleza sem igual que dizia: “O amor é
real, realidade é o amor / O amor é sentir, sentindo amor / Amar é querer ser
amado¹...” Mas antes que as emoções começassem a aflorar a pele, apareceu-lhes
entre ele a metáfora. Algo como a terceira pessoa do singular, não deixando
espaço para que Beatriz e Rafael vivessem o que há tempos começaram, mas que
nunca conseguiram consumar. E restou a metáfora amar o seu progenitor
jardineiro. E a Beatriz, a metáfora também amou. Sabe-se apenas que esse amor
existe, mas quem alguém terá que ceder seu espaço para que a flor possa florir.
Kleberson M.
¹Love – John Lennon
Kleberson M. (Kleberson Marcondes) é de Pindamonhangaba/SP, nascido em 1989. Estudante Técnico Jurídico no Centro Paula Souza. Amante de Nietzsche e apaixonado por F. Scott Fitzgerald, carrega ainda uma paixão avassaladora por Nirvana, Pitty, Cazuza e Janis Joplin. Sonhador convicto encontra no ofício de escrever, uma válvula de escape para expressar aos poucos como enxerga o mundo, as pessoas, os detalhes. Encontra nas crônicas o evangelho do ser humano contemporâneo, nos contos a fantasia que as pessoas esqueceram e na poesia, notas e partituras, o meio da existência. Filho do mundo, poeta dos incoerentes e observador dos devaneios, já que isso é onde todos se encontram.
Visitem seu blog: Kleberson M. ou adicione ele no twitter: @klebersonm__
Gostaram,pessoal!
Então não deixem de comentar!!
Bjs!!!
9 comentários
Lindo Zilda... uma reflexão de vida e suas diferenças e seus encontros no "evangelho humano" de cada um de nós! Belo post!
ResponderExcluirAbraço, Célia.
Que texto lindo! Um ótima reflexão para qualquer idade! Estou maravilhada até agora, saí voando com as flores!
ResponderExcluirMuito bonito, Zilda! Fez bem à minha alma. Parabéns ao Kleberson! *-*
ResponderExcluirBeijocas,
Lu
www.equinocioaprimavera.blogspot.com
Como sempre excelente texto!!! Esse muito reflexivo! Adorei!!
ResponderExcluirOi Zilda, adorei o texto! Achei tão suave, inocente... parabéns ao autor!
ResponderExcluirBeijos!
Marcelle
http://bestherapy.blogspot.com
Que texto lindo!
ResponderExcluirQuantos vivem assim, achando que as diferenças fazem algum sentido quando o que os igualam é o AMOR?!
Parabéns Kleberson. Seus textos são maravilhosos, mas esse teve um "Q" a mais.
@aplalima
Adoro esse tipo de texto, que nos fazem viajar, e repensar as coisas, e se imaginar na mente do escritor tb.Parabéns Kleberson.
ResponderExcluirParabéns Zilda.
Beijos!
Viviane
http://vivianeblood.blogspot.com/2012/01/resenha-os-sete.html
Zilda, texto muito lindo, realmente nos faz pensar na vida, obrigada pela visita e pelas palavras queridas, estou seguindo também.
ResponderExcluirBeijos e abraços...
flordeeros.blogspot.com
CARA..AMEI..AMEI.. meu Deus finalmente bons textos, ás vezes fico horas caçando bons textos e achei um autor ótimo. Vou atrás de mais textos do Kleberson
ResponderExcluirObrigada pela visita! Sua participação é muito importante.