|Resenha| Claros Sinais de Loucura - Karen Harrington @intrinseca
Esse livro já estava na minha lista de desejados há muito tempo. Mas por mais que eu estivesse morrendo de curiosidade sempre acabava passando outro na frente. Enfim, deixando minha tolice de lado vamos ao que interessa.
A primeira coisa que me chamou atenção foi o título do livro. Por me considerar um pouco louca achei que encontraria nele as respostas de muitas das minhas loucuras (brincadeira). Eu não me preocupei em buscar mais informações ao seu respeito. Queria começar a leitura crua mesmo, sem pitacos alheios e foi assim que conheci e me apaixonei perdidamente pela narrativa de Karen Harrington.
Claros Sinais de Loucura é um livro incrível. Não existe outra maneira de descrevê-lo. A história criada por Karen Harrington é encantadora, fluida, de uma delicadeza e sensibilidade indescritíveis. É o tipo de livro que te traz inúmeras reflexões e te emociona do início ao fim.
Em Claros Sinais de Loucura vamos conhecer a história de Sarah Nelson, uma menina que está prestes a completar 12 anos de idade e que já passou por um trauma enorme. Sua mãe tentou afogá-la quando ela tinha apenas dois anos de idade. Sarah sobreviveu, mas seu irmão gêmeo não tivera a mesma sorte. Desde então Sarah não mantém contato com a mãe já que após essa tragédia ela fora julgada e internada num hospital psiquiátrico.
Após a tragédia ela e o pai não tiveram mais sossego. Os repórteres sempre buscavam informações não os deixando em paz para seguirem suas vidas. Por conta dessa perseguição Sarah estava sempre mudando de casa e quando eles começavam a se acostumar com o lugar eles eram perseguidos e atormentados pela mídia. Era uma agonia constante já que ela não entendia o motivo que levara à mãe cometer tamanha barbaridade.
Agora aos 12 anos Sarah tem inúmeras perguntas que clamam por respostas. Seria Sarah tão louca quanto a mãe? Para Sarah os indícios são fortes, já que ela nunca conheceu alguém que conversasse e tivesse uma planta como única e melhor amiga. Como se não bastasse conversar com uma planta, Sarah mantém dois diários aonde escreve seu cotidiano; porém apenas em um deles ela escreve seus sentimentos verdadeiros; no outro, apenas aquilo que as pessoas acreditam que pessoas normais escrevam.
O pai não conseguiu superar a dor e acabou se tornando um alcoólatra, ou seja, sobram motivos para que Sarah coloque sua sanidade à prova. O medo de se tornar alcoólatra como o pai ou até mesmo tão louca quanto a mãe faz com que Sarah fique atenta a todo e qualquer sinal de instabilidade emocional.
"É isso que sou. Uma cripta de segredos. Eles se agitam dentro do meu peito como pássaros engaiolados que querem fugir, mas tem medo de voar."
Vamos acompanhando um pouco da sua trajetória por meio de observações inusitadas e bem peculiares. Assim como a maioria de meninas da sua idade ela não lida muito bem com a sua autoestima. Sarah não sabe lidar com determinadas situações que são bem comuns da idade. Ela ainda tem que dar um jeito de safar dos avós já que não aguenta passar as férias de verão como de costume. Não que Sarah não goste da companhia dos avós, mas o medo iminente de que eles descubram que ela tem o gene da loucura da mãe simplesmente lhe atormenta.
No último dia de aula seu professor de inglês passa uma tarefa bem inusitada para a turma: ele deseja que todos escrevam uma carta à mão, endereçada ao seu personagem preferido registrando como seriam suas férias. Sarah decide escrever para Atticus Finch, personagem de O Sol é para Todos enquanto a maioria opta por Harry Potter. Sarah é diferente de todos. Gosta de grifar os verbetes no dicionário e correlaciona o significado literal com aquilo que ela considera como uma palavra-problema. Sob o olhar de uma menina ávida por respostas e carente de atenção vamos acompanhar toda sua trajetória e descobrir o quanto os relacionamentos nos tornam frágeis.
"Nem todo mundo reage ás palavras da mesma maneira. Algumas são palavras-problema. Uma palavra problema muda a expressão da pessoa que a escuta. Amor pode ser uma palavra-problema para alguns. Loucura também."
Estou particularmente encantada com esse livro. Adoro livros cujo tema são focados em dramas familiares, principalmente quando protagonizados por crianças. Sarah é uma menina incrível, inteligente, curiosa e muito observadora. Nada passa despercebido aos seus olhos. Esse é um dos pontos fortes da narrativa contribuindo para que ela flua naturalmente. Apesar de todas as dificuldades que Sarah já enfrentou ela não fica se lamentando ou até mesmo questionando o comportamento da mãe. Seu único desejo é encontrar a mãe para que ela tenha definitivamente as respostas que tanto anseia.
Em alguns momentos até me esqueci que Sarah era apenas uma menina pois a tranquilidade e sabedoria com que ela narra os fatos é impressionante. Incrivelmente perspicaz e inteligente Sarah observe todos ao redor e faz da sua observação um ponto marcante para o livro. Vamos conhecendo seus pensamentos através de cartas que ela escreve em seu diário para o seu personagem favorito: Atticus Finch, personagem de O Sol é para Todos, que curiosamente ela idealiza como modelo de pai.
Ainda que o livro aborde questões sérias como o alcoolismo e doenças mentais podemos perceber o cuidado da autora em tornar a narrativa mais leve e atraente. Vamos acompanhando as pequenas descobertas de Sarah e a maneira que ela encontra para lidar com cada uma delas. Prepare-se para rir, chorar e se emocionar com seu jeito simples e inocente de enxergar a vida. Aliás, Sarah é muito mais sábia do que todos os demais personagens adultos.
Claros Sinais de Loucura é um livro sobre descobertas. Uma verdadeira lição de vida. É um livro para ser apreciado moderadamente, daqueles que te faz perder horas grifando trechos e refletindo sobre cada uma de suas citações. É fácil criar uma conexão com a história e se deixar levar pela emoção contida em suas palavras. Vale a pena ser lido, relido, citado, grifado. Uma verdadeira obra-prima que irá preencher vossos corações com muito amor e sabedoria.
“Não posso garantir, mas acho que o amor é alguém que entende você.”
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