Guerra Aérea e Literatura - W.G. Sebald
O que estranha Sebald é a falta de uma produção literária que tenta abarcar a visão dessa enorme destruição causada às cidades alemãs, já que praticamente toda a população havia experimentado tal horror. As labaredas que atingiam cinco andares de altura, o calor que expandia tão rapidamente que fazia a água de rios e lagos tornar-se incandescente, temperaturas acima dos 1000 C° que transformavam pessoas em poeira, o vento causado pela expansão do ar que chegava a 150 km/h, etc, não encontra lugar na produção pós-guerra, na chamada Geração de 45. Quando isso ocorre, dirá Sebald, são autores à margem (escritores suíços, exilados, imigrantes ou cosmopolitas, como o caso de Elias Canetti) ou tremendas exceções pouco lembradas e livros publicados apenas posteriormente, por intuição do próprio autor (caso notório aqui é O Anjo Silencioso de Heinrich Böll, escrito nos anos 1940, mas publicado apenas em 1992. Outro autor de Sebald evoca continuamente é o de Alexander Kluge). Isso se devia, principalmente, ao discurso progressista alemão após o fim da Guerra e com a chegada do “milagre econômico” gerado pelo Plano Marshall norte-americano (Sebald evoca muito bem isso através da fotografia, da propaganda e do cinema da época). Some-se a isso uma espécie de culpa, que impedia os alemães de se verem como vítima, assim como denuncias aos britânicos como praticantes de extermínio em massa (assim como não se toca na culpabilidade norte-americana pelas devastações em Hiroshima e Nagasaki). Longe de Sebald colocar os alemães e os judeus no mesmo patamar: no entanto, é preciso enfrentar o fato de que os alemães também foram vítimas, mesmo que a causa inicial seja eles mesmos (e aqui parece impressionante a omissão total de um nome como Gunter Grass, que trabalhou tão bem essa questão em livros como Passo de Caranguejo).
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